JATAÍ | MEIO AMBIENTE
UM RIO CONDENADO A CUMPRIR SOZINHO O SEU DESTINO...
“O seu apogeu ficou no retrovisor e o seu futuro é guiado pelas incertezas”, disse o
jornalista e ambientalista Pio Rezende que fez recentemente uma expedição no Rio Paraiso.
Por Pio Rezende (Jornalista e Ambientalista)
Entre todos os cursos de águas existentes no município de Jataí, o Rio Paraiso é o mais importante porque além de ajudar no abastecimento de água da cidade satisfaz economicamente milhares de pessoas que vive da retirada de areia do seu leito e de barros das suas margens para abastecer as olarias. Mais ainda: Ele nasce e desagua dentro do município abelha e está próximo ao perímetro urbano. A origem do seu o nome – Paraiso – não sabemos o efeito dessa procedência, mais podemos afirmar duas coisas. Uma: É que toda nascente de água realmente é uma benção. Segunda: É que os seus dias de benevolência já não são mais o mesmo...
Num passado ainda remoto – melhor dizendo no auge da minha juventude – tomei banho no Rio Paraiso e posso testemunhar que naquele tempo o Paraiso era um curso da água caudaloso chegando a superar em alguns pontos dois metros de profundidade. Recentemente, fiz uma expedição no Rio e fiquei impressionado e que remete a pensar que o deslumbramento de outrora não é mais animador. Em alguns lugares podem atravessar o Paraiso com águas na altura dos joelhos. Pude constatar ainda nas suas margens a presença de lixos, buracos, bancos de areia, erosão, mata ciliar irregular e grandes crateras causadas pela extração de areia e pela retirada de barros para as olarias. Além disso, existe também uma infinidade de estradas e trilhas que cortam as matas ciliares ajudando no assoreamento e abatimento das margens do Paraiso.
Mesmo com toda essa depredação sofrida pelo Paraiso ao longo dos anos, o impacto ambiental mais duro aconteceu no ano 2000 quando o ex-prefeito Humberto Machado visando transformar Jataí numa cidade turística construiu, sem projeto ambiental consistente, o Lago Bonsucesso. O Córrego Bonsucesso era o principal afluente do Rio Paraiso ficando em torno de 50 metros da edificação do Lago, sendo determinante para uma modificação brusca no equilíbrio dinâmico entre a descarga, velocidade média e na carga sedimentar do Paraiso (a vegetação rasteira foi suprimida, as matas ciliares do Córrego Bonsucesso foram destruídas e os detritos referentes a própria obra foi parar no leito do Rio. Ou seja, o Paraiso foi diretamente afetado, passando a ser uma espécie de depósito do Bonsucesso).
Pois-bem, o projeto turístico de fato não aconteceu, mais os problemas ambientais surgiram. Quando foi no ano de 2001, a barragem do Lago Bonsucesso rompeu e todo o conteúdo de terra, lixo e a areia derivado do empreendimento foram descarregados novamente no Rio Paraiso. Em seguida, e com poucas modificações, o aterro do Lago foi reconstruído e mais detrito chegou ao Rio.
Já no mandato do ex-prefeito Fernando Peres (2005/2008) a Prefeitura fez um reparo visando conter um novo acidente construiu uma vazante alternativa na lateral do Bonsucesso. Essa obra ajudou a manter o nível do Lago baixo, porém, passou a ser mais um problema ambiental porque o Paraiso passou a receber de forma artificial mais um afluente carregador de impurezas e também trouxe mais mudanças na dinâmica do Rio.
Com as enchentes ocorridas em 2010, o Lago Bonsucesso teve outras consequências. Durante um determinado tempo, as águas passaram por cima do aterro, causando estragos na sua base de sustentação, além de arrancar partes das extremidades da ponte que liga as duas orlas. Moral da história: Mais problemas ambientais para o Paraiso.
Analisando hoje, mesmo que de forma simples, percebemos que a construção do Lago Bonsucesso causou mais impacto ambiental ao Rio Paraiso do que todos os outros problemas juntos (extração de areia e barros para as olarias, erosão e desmatamento das matas ciliares). Pior ainda, é que o Rio entra na fila daqueles que enfrenta grande barreira para recupera-lo, porque o primeiro passo para revitalizar seria extinguir o Lago Bonsucesso, principal depredador e reconstruir ambientalmente o Córrego Bonsucesso, assimilando como era no passado. Mas nos moldes em que segue a política ambiental de Jataí, isso torna improvável. É um assunto que não passa na mesa de nenhum dos investidores do complexo turístico Bonsucesso e muito menos do Prefeito Municipal independentemente de quem seja a liderança política do município.
Desde a construção, tanto do Lago Bonsucesso como do clube Thermas Jatahy , eles sempre trabalharam no vermelho e a municipalidade se encarrega de mantê-los funcionando ás custas do dinheiro do contribuinte. Portanto, mesmo o Rio Paraiso sendo o curso hídrico mais importante do município jataiense, ele está condenado a cumprir sozinho o seu destino...O seu apogeu ficou no retrovisor e o seu futuro é guiado pelas incertezas.