“Mesmo eu sendo assoreado e carregando toneladas de poluentes despejados todos os dias no meu leito, consigo ainda, com as minhas águas abastecer 200 mil residências. Sou capaz de tocar as turbinas de cinco usinas hidrelétricas instaladas no meu trajeto, promovendo o bem-estar socioeconômico de um milhão de pessoas.

 

Nesse meio, promovo a vida de trilhões de peixes e mato a sede de milhares de pessoas e animais. A cada segundo, apresento pomposa riqueza e carrego as belezas das corredeiras e o som das cachoeiras! Nas variadas pontes construídas nas minhas margens passam uma infinidade de veículos, e ninguém não é capaz de parar e fazer uma reflexão de como estou vivendo...

Vivo o pior dos meus dias...Estou no meu limite! De ladeira abaixo mostro as pedras, reflexo da depredação das minhas matas ciliares. Peço clemência! Não me deixe perecer. Preciso de paz, pois sozinho posso até me recuperar. Quero melhorar para continuar promovendo caudalosa fartura a todos que me procurar. Assim seja!”, assinado: RIO CLARO!

(O que você acabou de ler foi um soneto criado pelo jornalista e ambientalista Pio Rezende para descrever a situação caótica do Rio Claro, o mais importante curso de água do sudoeste goiano).

 

CRONOLOGIA DE DEVASTAÇÃO DO RIO CLARO

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 No Rio Claro tem instaladas cinco Usinas Hidrelétricas; Duas captações de águas da Saneago: nas cidades de Jataí e Caçu; Sete pontes de concreto: uma em Caiapônia, outra em Perolândia, quatro em Jataí e uma em Caçu; Tem vários ranchos e sítios de lazer construídos nas suas margens; Centenas de lavouras e pastagens para animais foram plantadas próximas às suas margens; Uma infinidade de estradas e trilhas foram abertas ajudando no assoreamento e na diminuição do seu leito; Todos os anos milhares de pessoas acampam, passeiam de barcos e tomam banho no Rio Claro (muitos lixos e detritos deixados para trás vão parar nas suas águas); No decorrer do seu trajeto, são despejados esgoto sanitário sem tratamento e agrotóxicos; Todos os anos, os covais e as matas ciliares são agredidas pela ação humana e em muitos locais do Rio Claro, tem bancos de areia, erosão e enormes crateras.