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Crônicas por Pio Rezende

 Eternamente Apaixonados!

Ribeirão Preto-SP,1952. Uma moça linda, rica, 16 anos de idade e estudante do colégio Ramires Frato. Seu nome: Loreta Romes!

No trajeto entre a sua casa e o colégio, existia uma casinha velha construída de adobe. Todas as vezes que a menina passava na rua dessa casinha, aparecia um rapaz na porta que olhava e sorria!

Foi assim durante muito tempo: um rapaz na porta da casinha velha olhando e sorrindo para a Loreta! Aos poucos, isso foi intrigando a estudante que passou a ter pensamentos românticos voltados para o rapaz da casinha velha. Desejos de abraçar e beijá-lo! Estreava assim, no seu coração, uma grande paixão!

Num certo dia, Loreta disse para ela mesma: “Hoje vou criar coragem e conversar com aquele rapaz da casinha velha!” Porém, ao passar nesse dia pelo local, teve uma surpresa... A casinha velha tinha sido demolida e o rapaz não estava mais lá. Ela ficou confusa, como se estivesse assistindo um filme de suspense com final inexplicável.

Loreta buscou informações na redondeza e ninguém soube dizer nada sobre o rapaz da casinha velha. Foi uma decepção, estava sem resposta! “Por que derrubaram a casinha velha? Cadê o rapaz que ficava na porta?” Perguntas que não saíam da sua mente.

Algumas semanas depois, houve no colégio onde Loreta estudava uma olimpíada de desenho. Então, desenhou num quadro a casinha velha com um rapaz sorrindo na porta. Os professores analisaram o quadro, que acabou ganhando a competição. Em seguida, colocaram na galeria de exposições de artes do colégio. 

Quando concluiu o 2º grau, Loreta foi estudar psicologia em São Paulo. Lá não conhecia ninguém e raramente saía para passear. Sua vida resumia da faculdade ao apartamento onde morava. Mas, constantemente vinha na memória a casinha velha e o rapaz na porta sorrindo!

Depois que concluiu a formatura, ganhou de presente do seus pais: Laudo Romes e Camarim Viana, um apartamento. Logo, começou a trabalhar e não demorou muito para se tornar uma psicóloga conceituada em São Paulo.

Quando estava com 32 anos e ainda sem namorado, Loreta foi participar da festa de casamento de uma amiga. O evento era no clube Maturil. De repente, surgiu na mesa onde estava sentada, um homem bonito e muito elegante. E disse: “quando vi você, despertou em mim vontade em te conhecer. O meu nome é Marcio Binel!”.

Ela ficou meio intimidada nessa hora. Mesmo assim, respondeu: “O meu nome é Loreta Romes!” Na sequência, Márcio falou que era um arquiteto aposentado, tinha 50 anos de idade, solteiro e morava num hotel. Como o bate-papo começou a fluir, ela acabou ficando mais à vontade. Assim, eles conversaram durante um bom tempo na festa. Ao se despedir, Márcio Binel pediu o seu telefone e disse que depois ligava.

Posteriormente, Loreta e Marcio passaram a se encontrar. Jantava juntos e frequentava as baladas paulistanas. Sua vida tinha entrado em novo ciclo com esse relacionamento amoroso. E sem obedecer a simétrica da razão, ela convidou Marcio Binel para morar no seu apartamento. Nesse período, os seus pais já haviam falecido e deixado de herança muitas fazendas.

Um dia, chegou no seu apartamento um oficial de justiça com um mandado de despejo. Loreta, ficou assustada e respondeu: “aqui mora eu e meu companheiro Márcio Binel. Esse apartamento, foi um presente dos meus pais”. O oficial esclareceu: “Márcio Binel é um estelionatário e o nome verdadeiro dele é Rafim Gachego. Ele está sendo procurado pela polícia e enganou a senhora vendendo seu apartamento. Agora, terá de desocupá-lo”.

Loreta, não teve alternativa e assinou o documento judicial. A partir daí, “Marcio Binel”, desapareceu. Angustiada com essa situação, decidiu — 20 anos depois — retornar para sua cidade natal.

Após duas semanas, ela foi visitar o Shopping Center Ribeirão e ao passar em frente uma loja, ficou pasma! O seu coração palpitava fortemente! Isso porque na parede, estava o quadro da casinha velha que havia desenhado na época de estudante.

Era nostalgia e emoção! Aquele quadro simbolizava uma história de amor envolvente e não consolidada na sua juventude. Um fato marcante e nunca desvendado. Loreta entrou na loja e disse para a balconista que queria comprar o quadro da casinha velha. A balconista respondeu que o quadro não estava à venda, era de estimação do dono da loja.

Então, ela falou que queria conversar com o dono da loja. A balconista falou que ele estava no escritório — nos fundos do estabelecimento. Loreta foi até lá e se deparou com um homem de cabelos grisalhos sentado num sofá. E expressou: “Eu gostaria de comprar o quadro da casinha velha”. O dono da loja, sem olhar muito para ela, respondeu: “o quadro da casinha velha não está à venda!” E retrucou: “por que se interessou pelo quadro?”

Loreta esclareceu: “eu desenhei esse quadro quando estudava no Colégio Ramires Frato. Sempre que passava na rua da casinha velha tinha um rapaz na porta sorrindo pra mim!” Nesse momento, o homem levantou e olhou fortemente para ela. Parecia que estava vendo o céu iluminado de estrelas! Era uma revelação sentimental e estarrecedora!

E, sucintamente ele ilustrou: “Deve estar acontecendo aqui um milagre! Esse quadro representa a casa onde nasci. Eu sou o rapaz que ficava na porta!” Loreta ficou pálida, parecia estar dentro de uma nave viajando no tempo! Ele acrescentou: “o meu nome é Nicanor Miranda Magler e nunca casei. Há muitos anos, o Colégio Ramires Frato promoveu um leilão das obras de artes dos ex-alunos. Ao ver esse quadro, arrematei prontamente”.

Agora, Loreta conhecia o rapaz da casinha velha. E como num conto de fadas, eles muito emocionados se abraçam! No verão de 1977, Loreta e Nicanor se casaram. Logo, mandaram fazer várias réplicas do quadro da casinha velha e pregaram nos cômodos da casa onde foram morar. A intenção deles era manter sempre viva a tônica dessa história de amor!

O casal publicou ainda um livro intitulado: “A Estudante e o Rapaz da Casinha Velha!”

Pio Rezende

Jornalista, Ambientalista e Editor do Jornal LIBERAIS.

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