Crônicas por Pio Rezende
Às lágrimas de uma mulher me comoveu!
Mineiros, 11 horas da manhã de 2020. Eu estava trabalhando na cidade quando comecei a sentir febre e dores no corpo. A partir daí, resolvi procurar atendimento médico na UPA. Como carrego vários equipamentos jornalísticos (microfones, câmara de filmagem e fotografias), não podia deixar o meu carro no sol. Na porta da UPA, não tinha nenhuma sombra.
Em vista disso, só consegui estacionar o carro cerca de dois quarteirões abaixo, onde havia uma árvore. Depois seguir a pé em direção a unidade de saúde.
Quando adentrei na rua de acesso a UPA, deparei com uma mulher sentada num murinho de uma calçada e exposta ao sol. Essa mulher chorava muito e suas lágrimas desciam pelo rosto. Ela aparentava ter cerca de 40 anos de idade. Ao seu lado, tinha uma criança branquinha de seis anos de idade. Era uma cena tensa e comovente!
Resolvi ir até onde essa mulher estava. Ao se aproximar dela, perguntei porque estava chorando. Sem responder nenhuma palavra, ela pegou uma pasta de papel colorida do seu colo e estendeu o braço para me entregar. Mas, rapidamente, percebi que se tratava do resultado de um exame médico. Parecia ser de ultrassonografia.
Sem pegar o exame da sua mão, eu disse que não precisava. Sentir naquele momento, que o motivo que o fazia chorar era porque havia recebido um diagnóstico positivo — provavelmente de uma doença maligna. Naquela circunstância, puxei do meu bolso um lenço e dei para ela dizendo: “enxuga o seu rosto, meu lenço está limpo. Tirei do guarda-roupa hoje e ainda não usei”.
A mulher pegou o lenço e começou a enxugar as lágrimas. Em seguida, perguntei o seu nome e o da criança e se era de Mineiros. Ela respondeu que morava no Estado do Tocantins e que há duas semanas tinha chegado na cidade. Revelou ainda, que os seus pais moravam em Mineiros. Perguntei também, se estava esperando por alguma pessoa da família. Disse que já tinha chamado um táxi para levá-la até a casa dos seus pais.
Na sequência, tirei a mulher e a criança do sol e coloquei sentadas numa sombra de um estabelecimento comercial que tinha nas proximidades. Depois, abracei com ela e falei que a sua aflição ia passar. Pedir para acreditar em Deus e ter forças para lutar. Expliquei sobre a importância de fazer o tratamento médico. E mencionei muitas palavras de amor e otimismo!
Nessa conversa, fiz ainda referência a seus pais, os irmãos, o seu marido e a Eloísa (a criança que acompanhava), que todos amavam e precisavam dela.
No meu último momento com essa mulher, me identifiquei dizendo: “o meu nome é Pio Rezende, sou jornalista do Jornal LIBERAIS!”.
Aí seguir para UPA onde preenchi uma ficha médica e fiquei na área externa da unidade de saúde esperando para ser chamado. De repente, um carro branco (taxi) aproximou da referida mulher. E vi quando ela e a criança entraram no veículo.
Confesso, que fiquei o resto do dia lembrando daquela cena: uma mulher chorando no sol ao lado de uma criança. Às lágrimas dessa mulher me comoveu, e eu acabei chorando também.
Percebi — algum tempo depois — que mesmo tendo procurado acalmá-la, cometi ainda muitas falhas. Acho até que fui omisso; porque poderia ter feito algo mais para essa mulher. Como por exemplo, feito naquele momento de grande agonia uma oração para ela! Levá-la no meu carro até a casa dos seus pais.
Às vezes, somos surpreendidos com cenas dramáticas apresentadas no nosso caminho. Mostrando, para todos nós, que qualquer pessoa pode estar sujeita as fragilidades da vida. E ajudar o próximo, é e sempre será uma forma de equilibrar nosso sentimento fraterno!
Nunca mais tive notícias dessa mulher e nem sei onde mora. Nessas paragens, que Deus possa guiar os passos dela na direção de uma epopeia de saúde e alegria!