top of page

Crônicas por Pio Rezende

Eles diziam que não sabiam de nada...

 Uma velhinha triste abre a porta da casa da fazenda para um visitante – era bem cedinho do dia. Nesse momento, o visitante percebeu que uma cachorrinha ia e voltava correndo constantemente no fundo do quintal. Como se estivesse anunciando alguma coisa que estava acontecendo.

O visitante notou ainda que a velhinha estava com dificuldade para conversar, parecendo que tinha um problema grave de saúde. Quando foi embora, o visitante passou num morador mais perto e disse que aquela velhinha estava muito doente. Era bom que as pessoas fossem visitar ela.

Essa velhinha morava junto com um filho chamado Marivaldo que cuidava da propriedade rural para um fazendeiro. Havia uma estrada boiadeira que traçava bem no meio da fazenda. Por isso, muitas pessoas que passavam pelo local pernoitavam na sede da fazenda.

Certo dia, o fazendeiro disse para o Marivaldo não deixar mais ninguém pernoitar ou soltar animais na sua propriedade rural.

Alguns dias depois, apareceu alta horas da noite na fazenda dois rapazes: Raimundo e Emerson. Eles disseram para o Marivaldo que queria pernoitar ali. O filho da velhinha respondeu que não podia mais ceder pouso para ninguém.

Diante do impedimento, os rapazes insistiram em pernoitar na fazenda desobedecendo a ordem de Marivaldo. Assim fizeram. Tiraram os arreios dos seus cavalos, soltaram no pasto e foram dormir numa varanda da casa.

Na madrugada, Marivaldo foi até onde os rapazes estavam dormindo e mataram eles a pauladas. Em seguida, tocou os seus cavalos fazendo vagar pela região.

Já com o dia amanhecendo, o assassino Marivaldo (filho da velhinha), enterrou os corpos dos rapazes no fundo do quintal da fazenda. Era isso que fazia a cachorrinha ir e voltar constantemente do fundo do quintal. Uma cena registrada pelo visitante que chegou cedinho à propriedade.

Passadas duas semanas, os familiares de Raimundo e Emerson deram falta deles, pois não haviam chegado ao seu destino. E nem foram mais vistos nas redondezas. Começavam aí uma grande procura pelos dois rapazes. Todos os moradores daquela localidade foram mobilizados. As autoridades policiais também foram comunicadas sobre o desaparecimento deles.

As pessoas procuraram por muito tempo em todas as fazendas da região; nas matas e beiras dos rios; estradas e trilhas. Divulgaram ainda o fato em todos lugares possíveis. Mesmo assim, só encontraram os seus cavalos perambulando num desfiladeiro. Mas, nenhuma pista ou vestígios de Raimundo e Emerson.

Assim, os meses foram passando e o desaparecimento dos rapazes tornou-se um grande mistério. Várias hipóteses e comentários eram levantados pelas pessoas. E uma pergunta pairava na mente de todos: onde foram parar Raimundo e Emerson?

Enquanto isso, a velhinha e o seu filho Marivaldo, continuavam levando uma vida normal na fazenda. Como se nada tivesse acontecido... Quando alguém passava lá procurando pelos rapazes, eles sempre diziam que não sabiam de nada.

Depois de dois anos do desaparecimento dos rapazes, um irmão mais velho do Marivaldo - Jusnimar - levou a sua filha Lucinha de 15 anos para morar com a sua mãe na fazenda (a menina era então neta da velhinha e sobrinha de Marivaldo).

Aconteceu que Marivaldo passou a se interessar pela sobrinha. Queria namorar com ela. De imediato, a Lucinha rejeitou o tio e não quis saber de relacionar com ele. Entretanto, Marivaldo continuou insistindo na conquista da jovem, que se mostrava irredutível.

Com o passar dos dias e diante da recusa da sobrinha de não querer aquele romance, seu tio começou ameaçá-la.

A velhinha percebendo esse desentendimento entre seu filho e a neta, mandou chamar o Jusnimar. Assim que ele chegou na fazenda, ela pediu para que levasse a menina. Isso porque Marivaldo estava ameaçando-a de morte por não querer namorar com ele.

No início da conversa, Jusnimar recusou o pedido da mãe, dizendo que o seu irmão não tinha coragem de matar ninguém. Nesse momento, a velhinha teve de falar mais duro com o pai da Lucinha. Revelou que Marivaldo podia matar mesmo a menina, pois ele havia matado aqueles dois rapazes que estavam desaparecidos. E enterrados no fundo do quintal da fazenda.

Jusnimar ficou perplexo diante desta revelação bombástica sobre Marivaldo. Entendeu, que realmente havia um risco mesmo do seu irmão assassinar também a menina. Logo, tirou ela da fazenda.

Momentaneamente, nada mudou na história do sumiço do Raimundo e do Imerson. Mesmo o Jusnimar sabendo de tudo, obviamente que, em sã consciência não ia revelar os assassinatos dos rapazes. Tinha que preservar o seu irmão.

Muito tempo depois, Jusnimar foi passear num pequeno povoado da região e resolveu tomar umas biritas. Quando já estava bem chapado, começou a dizer coisas-com-coisas. Em determinado momento, disse no meio de muita gente: “Eu sei o que aconteceu com aqueles dois rapazes que estão sumidos..."

Nessa hora, as pessoas ficaram pasmadas e em suspense, porque esse caso era misterioso naquelas redondezas. Em seguida, se juntaram perto dele e perguntaram: “o que você sabe sobre o desaparecimento do Raimundo e do Emerson. Conta tudo para nós?”

Então, Jusnimar respondeu: “o meu irmão Marivaldo matou os dois rapazes que estão sumidos... E enterrou seus corpos no fundo do quintal da fazenda onde mora com a minha mãe”. Nesse momento, houve um silêncio profundo entre as pessoas. Elas ficaram chocadas com aquela revelação. Logo, a notícia começou correr pelas fazendas e moradores da região.

Na sequência, chamaram o Delegado de Polícia que juntamente com outras pessoas foram até a fazenda. Chegando lá, prendeu o Marivaldo (filho da velhinha) que confessou como tudo aconteceu. Depois, ele mesmo desenterrou os cadáveres dos dois rapazes.

Marivaldo foi preso e fotografado segurando os dois crânios dos rapazes que havia matado. Esse material serviu como prova no processo criminal. Posteriormente, ele foi julgado e condenado a muitos anos de prisão pelos assassinatos.

Essa é uma história real! A força do destino permitiu que o desaparecimento de Raimundo e Emerson fosse descoberto (para preservar as famílias envolvidas não divulgamos o local onde o fato aconteceu). 

Pio Rezende

Jornalista, Ambientalista e Editor do Jornal LIBERAIS.

bottom of page