Crônicas por Pio Rezende
O encontro de Mayka e Sandoval
Rodoviária de Rondonópolis, 16 horas, 1982. Um ônibus estaciona na plataforma de passageiros, momento em que chega um rapaz meio bêbado numa motocicleta. Seu nome é Sandoval. Ele olha para a janela do ônibus e vê uma mulher de cabelos pretos e óculos escuros sorrindo na sua direção.
Sandoval, era nordestino, 37 anos de idade e trabalhava numa oficina mecânica. Ele ficou maravilhado com o sorriso da mulher! Aproximou-se do ônibus e falou para a passageira: “Tu vai á onde cabrita?” A mulher chamava Mayka Sobral, uma brasileira de origem japonesa, que responde: “Estou indo para São Paulo moro lá!” Após essa rápida conversa, Sandoval passou seu endereço para a Mayka que seguiu viagem!
Sandoval morava numa kitnet e ao lado residia o seu amigo chamado Juarez. Ele vai muito alegre no quarto do amigo e fala: “Cara, acabei de conhecer uma cabrita num ônibus, fiquei encantado com ela. Pelo jeito, ela gostou muito do cabra bom aqui. Disse que chama Mayka, mora em São Paulo e que vai mandar uma carta”.
Juarez ouviu a declaração do amigo e disse: "Bom de mais, de repente acontece o namoro”. Depois disso, Sandoval só andava alegre, bem-humorado e sempre falando da Mayka. Parecia estar muito apaixonado pela mulher que conheceu na rodoviária.
Mayka, era arquiteta, 39 anos de idade e trabalhava numa grande empresa de decoração em São Paulo. Assim, como Sandoval, andava delirando de alegria e sempre pensando no homem que conheceu na rodoviária de Rondonópolis.
Naquele tempo, a comunicação entre às pessoas de outras cidades eram feitas basicamente através de cartas. Assim aconteceu. Passados 12 dias, Sandoval recebeu uma carta da Mayka, três folhas de papel escrita do próprio punho com uma caligrafia muito bonita!
Ao receber a correspondência, Sandoval leu imediatamente e mostrou para o amigo Juarez. A carta tinha palavras românticas, frases poéticas e até chamava-o de príncipe encantado! Sandoval, foi respondendo as cartas de Mayka e mesmo com pouca formação escolar, se esforçava no romantismo.
Assim, os meses foram passando. Sandoval sempre falava da Mayka e demonstrava estar muito apaixonado. O conteúdo das cartas parecia, que tanto Mayka como Sandoval tinham carências e sentimentos semelhantes.
No verão de 1983 — seis meses após o rápido encontro na rodoviária e dezenas de cartas enviadas — Mayka manda um telegrama para Sandoval. Nele, dizia que estava de férias do trabalho e estava indo para Rondonópolis encontrar com ele.
Com o telegrama na mão, Sandoval deslizava de felicidade e só faltava rolar na areia de tanta alegria!
No dia seguinte, foi numa loja comprar sapatos, roupas e perfumes. Tudo para esperar a mulher!
Mayka disse que chegaria às nove horas da manhã, 14 de fevereiro de 1983. Nesse dia, Sandoval estava tão ansioso que levantou bem cedinho. Fez a barba, tomou banho, vestiu a roupa nova, abusou dos perfumes e sete horas já estava pronto. E chamou o amigo Juarez e disse: “A mulher chega daqui a pouco, olha como estou... Posso ir assim?” O seu amigo olhou para ele e respondeu: “Está ótimo Sandoval!”
Sandoval foi para a rodoviária aguardar a chegada da Mulher. Às 9 horas e 21 minutos, o ônibus que trazia a Mayka estacionou na plataforma de desembarque. O motorista abriu a porta e logo a mulher desceu. Ao se aproximar de Sandoval, ela sorriu e abraçou fortemente!
De lá, eles seguiram para um quarto de um hotel que Mayka havia reservado. Passaram o dia conversando, abraçando, beijando e dormiram juntos naquela noite. No dia seguinte, Sandoval voltou para sua kitinete calado e demonstrava estar frustrado. Ao perceber o comportamento diferente do amigo, Juarez perguntou: “E aí, como foi o encontro com a menina, está tudo certo entre vocês dois?”.
Sandoval com uma voz engasgada respondeu: “cara, não gostei do abraço dela... não gostei disso... não gostei daquilo... e foi falando...falando.” O seu amigo interrompeu: “calma Sandoval! No primeiro dia todo mundo tem um pouco de timidez e nem tudo acontece como planejado. Mas, com o tempo, melhora a intimidade e tudo fica bem.” Sandoval retrucou: “estou tanto tempo sozinho e pensei que agora tinha conseguido a cabrita que havia sonhado. Estou decepcionado! Vou voltar lá no hotel e dizer para a Mayka que nós não vamos dar certo”.
Assim, ele retornou ao hotel e rompeu com a mulher que no outro dia voltou para São Paulo. Depois disso, Sandoval continuou morando em Rondonópolis levando a sua vidinha pacata. Numa certa madrugada e sem deixar pistas, ele sumiu. Alguns amigos, acreditam que Sandoval deve ter voltado para sua cidade natal (Caruaru- PE).
O amor e a frustração são sínteses imprevisíveis! Pode estar numa calçada, na praça de lazer, ou mesmo em uma rodoviária. Mayka Sobral e Sandoval eram românticos e a propósito tinham vontade de amar. Entretanto, não souberam equacionar as suas fragilidades nessa imensidão de sentimento: chamado amor!