Crônicas por Pio Rezende
Você quer ir de Opala ou de C-14?
Era um dia de muito frio, quando o trabalhador rural por nome de Nicanor Felisbino chegava no Posto Tabocão (BR-364 Portelândia). Ele veio de uma fazenda nas proximidades e queria pegar uma carona para ir para a cidade de Jataí. Mas, tinha um problema: muito medo de viajar! Medo que o motorista corresse abusivamente.
De repente chega num Opala três rapazinhos com um som do veículo ligado bem alto e de óculos escuros - bem pré-boyzinhos. Alguns minutos depois, chegou um senhor de 75 anos de idade tranquilo e dirigindo bem devagarinho uma caminhonete C-14 bastante velha.
Coincidentemente, tanto os rapazes do Opala como o senhor da caminhonete estavam indo para Jataí. Então, Nicanor pediu primeiramente carona para os rapazes do Opala. Eles disseram que davam sim carona para ele até Jataí. Nicanor também procurou o senhor da C-14 se dava carona para ele até Jataí. O senhor respondeu que dava sim.
Pois-bem, Nicanor Felisbino tinha duas opções de carona para ir para Jataí. Poderia escolher o Opala com os rapazinhos ou com o senhor da caminhonete. Mas, como tinha muito medo de viajar, ele fez a seguinte reflexão: “Esses rapazinhos playboys nesse Opalão com som alto deve correr muito e será extremamente perigoso viajar com eles. Já esse senhor, com idade avançada parece tranquilo e também está numa caminhonete bastante velha. Como sou mesmo medroso para viajar vou escolher a C-14!”.
Diante da reflexão feita, Nicanor decidiu ir mesmo com o senhor da caminhonete C-14 e dispensou os rapazinhos do Opala.
Moral da história: quando o senhor pegou a BR-364 rumo a Jataí, Nicanor jamais imaginaria o que estava prestes a acontecer...O senhor começou a acelerar profundamente a C-14 e foi colocando marchas no veículo. Colocando marchas e a caminhonete foi ganhando alta velocidade e por ser muito velha chegava até vibrar.
Logo, Nicanor percebeu que aquele senhor tinha ainda um comportamento muito estranho. Porque não conversava e quando procurava alguma coisa, ele demorava para responder. O que o senhor queria mesmo naquela viagem era só acelerar a C-14. acelerava...acelerava...E ia ultrapassando todos os outros veículos pela rodovia.
Nicanor assegurava no banco da caminhonete, tinha calafrio, tremia de medo e não tinha como fazer nada. O senhor continuava correndo em alta velocidade na BR-364 e calado. Não dava trégua! Nas descidas e nas curvas perigosas andava no “pau” buscando atingir a maior velocidade do veículo.
Em menos de uma hora de viagem, o senhor e o Nicanor chegavam no trevo de Jataí. Nicanor passou tanto medo, mais tanto medo, que mesmo sendo um dia de muito frio, chegou molhado de suor na cidade abelha. As suas pernas estavam bambas pelo medo que passou na viagem!
Enquanto isso, os rapazinhos vieram no Opala para Jataí devagarinho na rodovia. Ouvindo músicas, contando os causos da noite passada num clima bem alegre e descontraído.
Nesse mundo de ilusões e no ponteiro que marca o relógio da vida, parece-me, que aquele ditado popular que diz: “as aparências se enganam”, está mesmo beirando a autenticidade.
Depois do diagnóstico dessa experiência, Nicanor Filisbino ficou mais cabreiro e com mais medo ainda de viajar. Principalmente — se o motorista for um senhor de idade avançada!
E você: Quer ir de Opala ou de C-14?