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Crônicas por Pio Rezende

Cadê as Filhas Exibidas da Dona Osmivalda?

Eu continuo com vontade de desligar o relógio de energia elétrica de uma casa e sair correndo... Estou querendo roubar galinhas e fazer uma farofa na madrugada com os meus amigos. Como era divertido namorar pela janela a filha da vizinha! Naquele campinho de terra, fui um artista da bola! Se abrir uma sanfona perto de mim prometo que já sai dançando!

Cadê aquelas três moças bonitas e exibidas que não cumprimentava os seus vizinhos? Estou querendo buscar gabiroba e jatobá na mata do queixada! Por onde aquela mulher que fazia os bolos deliciosos da vendinha do senhor Inácio? Lembra daquele menino que engraxava sapatos na porta do Jóquei Clube de Jataí: ah! ah! Ele ficou famoso!

Lá na festa da região da Onça, passei a noite olhando para uma menina moreninha e ela olhando pra mim... Que pena, que não rolou nada! Por que o mercadinho do seu Nazário está de portas fechadas?

Eu sou um eterno admirador daquela moça que vendia sabão-de-bola na rua...! Cadê aquele cara que quando arrumou um empreguinho de m...e depois se achava melhor que os outros meninos do bairro?

Nas tardes de domingo, tinha compromisso marcado no vesperal do Cine Imperador. Em cartaz: Dólar Furado, com Giuliano Gemma! Mesmo depois de muito tempo, continuo pensando naquela garotinha - Lirimeia - que sentava do meu lado no banco da escola! 

Lembro que as noites eram curtas para os carrinhos de rolamento e o salve-cadeia... Estou sempre apaixonado pelas serenatas com aquela música de Bartô Galeno: “No Toca Fita do Meu Carro!”

Espanquei muitas vezes o radinho de pilha que não queria falar... O que aconteceu mesmo com esse tempo antológico? Não-não: tudo continua do mesmo jeito... Será? Bom, pelo menos as luzes das praças continuam acesas!

Há tempos, venho recebendo dos meus leitores e amigos, centenas de mensagens na minha página da rede social. Ultimamente, uma dessas mensagens continham palavras contundentes: era a declamação romântica de uma mulher me colocando na apoteose! Iniciava assim: “Lembra de mim...Você é uma pessoa muito especial na minha vida; digna dos meus elogios, respeito e gratidão!” No finalzinho dessa mensagem, foi ainda mais impactante. Dizia: "Há trinta anos lembro de você todos os dias... Nunca consegui te esquecer! Te amo de verdade! Beijos!!!"

Esses dias, fui num mercado comprar algumas verduras e enquanto conferia a qualidade das hortaliças, uma senhora caminhando com dificuldade, aproximou-se de mim. Em seguida, disse: "você ficou famoso né menino!” Mesmo sem conhecê-la respondi: "fiquei sim e estou até ganhando dinheiro com a fama. Mas, continuo com a mesma simplicidade e a gratidão de sempre!”  

Então, perguntei: "a senhora me conhece?" Calmamente ela respondeu: "não está me conhecendo né... Sou a dona Osmivalda! Quando você era menino, jogava bola descalço na porta da minha casa. Sempre leio suas reportagens, as crônicas e também as mensagens!".

Aí — exclamei: “lembrei sim! Muito obrigado por acompanhar o meu trabalho jornalístico-literário! E cadê aquelas três filhas bonitas da senhora?"

Dona Osmivalda expressou: "a Rubinéia está morando agora comigo. Ela casou, largou, casou de novo e tornou a largar...e tem nove filhos. Já a Rubeslândia, casou com um cara safado, mas mora em casas separadas. Só se encontra com ele a cada sete meses. E a Rubisleia, está morando na fazenda. Lá, ela ajuda a tirar leite e fazer a comida dos peões”.

No final da conversa, a dona Osmivalda me fez um convite: "depois você vai passear na minha casa!" Eu respondi: “De tudo que nos foi permitido — quem sabe — vou voltar a jogar bola descalço novamente...!" 

Pio Rezende

Jornalista, Ambientalista e Editor do Jornal LIBERAIS.

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