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Tragédia da Hidrelétrica Espora deixa o rio Corrente em coma

Por Pio Rezende (Jornalista e Ambientalista)

Três dias após o rompimento da barragem da usina Hidrelétrica Espora do rio Corrente no município de Aporé-GO, tive a oportunidade de assistir uma filmagem feita por uma empresa de vídeos, de propriedade de um amigo meu. Nela, mostrava-se detalhadamente todo o percurso atingido (cerca de 200 km) pela inundação que vai desde a sede da Hidrelétrica, próxima ao distrito de Itumirim, ao rio Paranaíba, na divisa dos estados de Goiás e Minas Gerais. E confesso que durante essas quase duas décadas que estou trabalhando no jornalismo, nunca tinha visto, de uma só vez na nossa região, uma devastação ambiental e econômica de tamanha proporção e gravidade como essa. Foi uma tragédia!

Como jornalista fiquei impressionado e chocado com o ocorrido. Já como ambientalista, senti-me diminuído e agredido. É como se eu tivesse levado uma surra, na qual o meu agressor usasse apenas golpes baixos. Naquele momento em que assistia aquela destruição, fiz uma viagem imaginária. Passei pela provação da consciência, olhei para o horizonte, parei na reflexão mais profunda do meu ser e cheguei, trazendo à dolorosa conclusão de que estamos embarcados numa locomotiva sem trilho. Imaginei se as outras hidrelétricas que estão para ser construídas no sudoeste goiano viessem também a desabar como a Espora. Qual seria o tamanho da tragédia! Vale então abordar no fervor desse repugnante desastre ecológico e social, que nenhum empresário, autoridade, operário, intelectual, político, ou seja, ninguém não pode mais tratar a questão ambiental com base em razões tacanhas e insensíveis. Se continuarmos alimentando pensamentos assim, é ir contra a realidade.

Qualquer empreendimento que envolva diretamente o meio ambiente deve ser limitado, regulado, controlado e inspecionado constantemente. Assuntos ambientais são vitais. E pergunto agora: como vão pagar essa devastação nefasta do rio Corrente (os abatimentos das suas margens, os impactos de todo o seu leito, as mata ciliares que foram destruídas, as espécies de peixes que sumiram, os animais silvestres que perderam o seu habitat e morreram em toda a área arrasada pelo rompimento da barragem?) Como ficam os altíssimos prejuízos econômicos provocados a dezenas de agropecuaristas que tiveram suas plantações, animais e as sedes das fazendas danificadas? Será que vão indenizá-los com equidade sem precisar recorrer à justiça? De que maneira vão resolver urgentemente os transtornos que estão causando às cidades de Caçu, Itarumã, Lagoa Santa, Itajá e Aporé que dependiam da ponte destruída que ligava esses municípios? Como serão calculados os prejuízos socioeconômicos que essas comunidades estão tendo? Consiste saber também quantas pessoas morreram nesse acidente. Da mesma forma, pairam dúvidas sobre o quesito segurança nessas outras usinas hidrelétricas que estão em construção. Diante do exposto, eis aqui as questões…

Sempre me posicionei contra a construção de qualquer empreendimento que necessitasse de represamento de águas (lagos). Para esse tipo de edificação existem sempre inúmeras alternativas inteligentes de prosperar sem agredir o meio ambiente. Quando foi para iniciar a construção da PCH (Pequena Central Hidrelétrica) de jataí no rio Claro, coloquei-me frontalmente contra. Tanto é verdade que sou o único jataiense a mover uma Ação Popular na Justiça, impedindo que essa usina fosse construída aqui no município abelha.

Isso porque sei de cor e salteado os perigos ambientais e sociais que um projeto empresarial dessa natureza pode causar para uma região. Para provar que tenho razão, na minha propositura, além de variáveis danos ecológicos que já denunciei, temos aí como um exemplo esse recente episódio trágico com a Hidrelétrica Espora. O que estou colocando aqui, não se trata de pré-julgamento e nem de análises com linguagem ecológica e propondo recomendações para as autoridades que, em muitas vezes, liberam uma licença ambiental baseadas em apenas numa pasta cheia de papel ou influenciadas pela pressão do desenvolvimento econômico inexorável.

Queremos ver quais as providências que serão tomadas pelos prefeitos e vereadores dos municípios arrasados pelo rompimento da barragem da Usina Espora. O povo também vai estar de olho nos governos estadual e federal sobre a conduta que vão adotar nesse caso. Enfim, a sociedade e a natureza querem uma resposta rápida e justa para esse problema que não pode sair no anonimato.

 

Nesse trajeto do desastre ambiental, o Rio Corrente, um dos mais bonitos do país, de água cristalina e glamour, encontra-se agora em estado de coma profundo. Talvez – quem sabe – daqui uns vinte anos ele volte a acordar, mas esperamos que se isso acontecer que não esteja mais por aqui os seus predadores se assim posso chamá-los.

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