A Guerra Fria de FHC
Por Pio Rezende (Jornalista e Ambientalista)
No mês de fevereiro deste ano(2002), a então governadora do Maranhão e pré-candidata a Presidência da República, Roseana Sarney, começou a ter um desempenho espetacular nas pesquisas de opinião pública, chegando a atingir 25% das intenções de votos, ocupando assim, entre os postulantes, a segunda posição. E estava despontando como uma forte concorrente a disputar o segundo turno das eleições com o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, em 1º de março, a Polícia Federal invadiu o escritório da Lunus (empresa de consultoria da qual a governadora é sócia juntamente com seu marido Jorge Murad) e fez a apreensão de vários documentos suspeitos, que poderiam indicar irregularidade na sua administração e ainda a quantia de 1.34 milhões de reais.
Naquela ocasião, Roseana questionou a operação, alegando que teria sido uma ação política com intuito de destruir sua candidatura. Já os procuradores encarregados do caso afirmaram que o procedimento policial foi justo e legal. Diante do volume da gravidade das denúncias e em meio à crise estabelecida, ficou a dúvida: foi realmente uma ação policial legítima, ou uma estratégia com ares e interesses políticos? O certo, até o momento, é que a carreira política da governadora veio abaixo e o andamento do processo judicial sumiu da mídia nacional.
Outro episódio também chamou atenção. Recentemente descobriu-se que a Polícia Federal havia grampeado, de forma irregular, vários telefones de pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores, inclusive o do próprio presidente Lula (telefone só pode ser grampeado com autorização judicial).
Independente das trocas de acusações entre as partes envolvidas e da legalidade ou não das duas ações, o propósito desses procedimentos policiais se aproxima em um ponto: parece mesmo existirem ingredientes políticos pelo simples fato de envolver diretamente dois postulantes ao Palácio do Planalto. Isso deixa a população brasileira preocupada, pois mostra que as prerrogativas jurídicas e a democracia estão sendo colocadas para escanteio, “entrando em cena” uma política hostil, que se assemelha ao estilo utilizado entre Estados Unidos e União Soviética, durante os anos de 1946 a 1989.
Nessa época, americanos e soviéticos travaram uma luta de hostilidade, na qual reinavam: grampos em telefones de embaixadas e de políticos importantes; patrocínio de diversos golpes de estado em países opositores; fraudes eleitorais; além de inúmeros tipos de espionagem com fins puramente políticos. Esses métodos ficaram conhecidos como Guerra Fria, onde milhares de pessoas morreram e outras punidas injustamente ou perderam seus cargos, que haviam conquistado democraticamente. O mundo viveu momentos de muitas incertezas e tensão sobre o futuro.
Agora, o Brasil está diante de uma modalidade política parecida com a utilizada durante a Guerra Fria: a espionagem. Essa prática astuta é e sempre foi, um dos maiores males de uma sociedade organizada, porque, além de deixar o país vulnerável a todos os tipos de especulação, quebra os princípios da confiança e quando isso acontece nada dá certo.
A vista disso, o momento requer reflexão e cautela de ambas as partes, pois não podemos concordar que alguém possa querer influenciar o resultado de uma eleição usando-se de métodos anti-democráticos. Aliás, as pessoas mais esclarecidas estão convencidas de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso sabia antecipadamente das duas operações (no escritório da Lunus e dos grampos nos telefones petistas), e que nada fez para impedi-las. Como também tinha conhecimento nos casos do socorro financeiro dos bancos Marka e Fontencindam e na fraude do painel eletrônico do Senado Federal que caçou o senador Luiz Estevão. Inclusive no episódio de Estevão, o senador José Roberto Arruda disse no seu discurso de despedida a seguinte frase: “Já defendi esse governo em situações mais difíceis do que esta”. E mais: quando FHC, diz que assinou sem ler o texto em que colocou milhões de reais nas mãos do Juiz Nicolau do TRT de São Paulo, isso soa como uma comédia inescrupulosa.
Portanto, por trás de tantas atitudes deturpadas e, sobretudo combalidas, o nosso Brasil ainda continua sendo um país rico e maravilhoso para se viver! E todos nós cidadãos de bem, devemos repudiar qualquer ação que esteja fora da agenda democrática. A missão política tem de ser exercida com ideias inteligentes, modernas e sempre na esperança de um novo despertar – esquecendo o engarrafamento mórbido do passado.